23 de maio de 2010

À espera do Pentecostes - Os Dons do Espírito Santo

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Vem Espírito Santo, e concede-nos o Dom do Temor de Deus!
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Nota:
No primeiro e segundo comentários está uma explicação sobre o Dom do Temor de Deus, que nada tem a ver com temor/medo.

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3 comentários:

joaquim disse...

A 1.ª carta de São João, que foi escrita posteriormente ao Evangelho do mesmo Apóstolo, provavelmente nos últimos anos do século I, revestindo-se de uma riqueza doutrinal notável, diz-nos que «No amor não há temor; pelo contrário, o perfeito amor lança fora o temor; de facto o temor pressupõe castigo e quem teme não é perfeito no amor» (1Jo 4,18). Como podemos dizer então que o Temor de Deus é um Dom do Espírito Santo?

Santa Teresa de Ávila, Doutora da Igreja, ensina-nos que perante tantas tentações e provas que o cristão tem que padecer, o Senhor oferece-nos dois remédios: «o Amor e o Temor». «O Amor apressará os nossos passos, e o Temor fará com que reparemos bem onde pomos os pés para não cairmos» (Santa Teresa, Caminho de Perfeição, 40,1). O Temor de Deus, Dom do Espírito Santo, repousou com os outros Dons no íntimo de Cristo e da Virgem Maria e dos Santos. Trata-se de um Temor filial a Deus, a quem desejaram servir e nunca ofender. Este Santo Temor tem dois efeitos principais: O imenso respeito pelo Primado e Senhorio de Deus em nossas vidas, com o consequente e sentido do Sagrado, do pecado e da profunda experiência da bondade infinita e ilimitada de Deus.

São Tomás de Aquino ensina que o Dom do Temor de Deus é consequência do Dom da Sabedoria e é a sua manifestação externa. De facto, encontramos alguns ensinamentos Bíblicos sobre esta relação sugerida por São Tomás entre o Dom do Temor de Deus e o Dom da Sabedoria: «O Temor do Senhor é uma escola de Sabedoria; e antes da glória está a humildade» (Pr. 16,33); «Assim, faz aquele que teme o Senhor; o que se dedica à Lei possuirá a sabedoria» (Sir. 15,1). Esta sabedoria produzirá na consciência dos cristãos a certeza de que «em última análise, na raiz dos males morais que dividem e destroem a sociedade está o pecado.» (João Paulo II, Carta de apresentação do "Instrumentum laboris" para o Sínodo dos Bispos, 25.01.1982). Por isso, o Dom do Temor de Deus produzirá nos cristãos que o possuem, uma recusa livre e consciente a tudo o que é o pecado. Torna-se clara a transcendência de Deus e a distância infinita e o abismo enorme que o pecado gera entre o homem e Deus. Por isso, do Dom do Temor de Deus brotam apelos de arrependimentos e de contrição, de conversão e mudança de vida.
(continua)

joaquim disse...

O Dom do Temor de Deus propõe aos cristãos a correspondência aos talentos colocados por Deus em suas vidas, por isso, quem sente em si o Santo Temor de Deus, procura pôr a render todas as suas capacidades e talentos espirituais, aborrecendo-lhe a mediocridade, o pecado venial deliberado, a tibieza, a desfaçatez e o aburguesamento.

Como nos ensina S. Teresa de Ávila, temos que percorrer os caminhos do mundo com «Amor e Temor». S. Gregório de Nisa aprofunda esta reflexão de S. Teresa ao afirmar que «quando o Amor chega a eliminar totalmente o Temor, o próprio Temor transforma-se em Amor.» (São Gregório de Nisa, Homilia 15). Este é o Temor do filho que ama o seu Pai com todo o seu ser e que por isso não quer separar-se d'Ele por nada deste mundo.
É nesta experiência espiritual que o crente compreende ao mesmo tempo a distância infinita que o separa de Deus e a enorme proximidade e intimidade de ser de facto filho de Deus. Por isso, trata Deus com plena confiança e com absoluto respeito e veneração. Naturalmente, quando se perde o Dom do Temor de Deus perde-se ou dilui-se o sentido do pecado, permanecendo-se facilmente na tibieza e no esquecimento ou alheamento indiferente da importância da presença de Deus em nossas vidas.

Entre os efeitos do Dom do Temor de Deus salienta-se o desprendimento que este produz na vida dos crentes face aos bens materiais, relativizando-os frente ao Bem Supremo que é Deus e a sua vontade. A vigilância interior desponta naturalmente nestes corações, frente ao perigo de se poder perder Deus, acolhendo a palavra do Apostolo que diz: «não ofendais o Espírito Santo de Deus, pelo com o qual fostes marcados par o dia da redenção» (Ef, 4,30).

A humildade traz consigo a consciência da fragilidade e a necessidade de cumprir a vontade de Deus no dia-a-dia da vida. A virtude da humildade, conjuntamente com a temperança brota do Temor de Deus e confirmam a certeza da presença do Dom de Deus. A virtude de Temor de Deus, dá-nos também a certeza da presença do Espírito Santo em nossas vidas, por isso todos os que vivem no Temor de Deus experimentam também o Dom da Fortaleza em suas vidas.

Perante as diversas dificuldades que possam surgir no caminho da vida, nos ambientes corrompidos e na incerteza crescente face ao futuro, os que temem a Deus são fortes e valorosos, autênticos filhos de Deus. Para estes, Cristo repete: «Não temais os que matem o corpo e não podem matar a alma. (...) Quanto a vós, até os cabelos da vossa cabeça estão contados!» (Mt 10, 28 e 30-31). A este respeito, João Paulo II ensinou que somos chamadas à Fortaleza e ao mesmo tempo ao Temor de Deus, este deve ser Temor de Amor, ou seja, Temor filial. Somente quando este amor penetra nos nossos corações, nós poderemos ser realmente fortalecidos com a Fortaleza dos Apóstolos, dos mártires e dos confessores.» (João Paulo II, Discursos aos novos cardeais, (30.VI.1979). O Dom do Temor de Deus Pai foi infundido com os outros Dons no momento em que fomos baptizados. Este Dom aumenta na medida em que somos fiéis às graças que nos oferece o Espírito Santo.

Pe. Senra Coelho – Na revista Família Cristã

Fá menor disse...

Desce sobre nós, Espírito Santo,
e inunda-nos com o Dom do teu Santo Temor,
para tomarmos consciência do quanto Deus nos ama
e termos a fortaleza necessária a respeitarmos essa aliança de Amor de Deus connosco.
Amen!